" A boa absorção ou abertura de consciência acontece somente no momento em que não nos prendemos na forma. Aprofundarmos-nos no conteúdo real quer dizer: 'Quem não quebra a noz, só lhe vê a casca'. Mas para quebrar a noz é preciso senso e noção, base e atributos que requerem tempo para se desenvolverem convenientemente" Hammed
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Paixão
A marqusa de Sévigné¹ era de uma beleza rara. E estava tão acostumada a ser cortejada, que o fato de até um leão apaixonar-se por ela não era de estranhar.
No tempo em que os animais falavam , era comum que eles ambiocionassem fazer parte do convívio humano. Afinal, tal qual os humanos, eles também tinham inteligência , força , coragem e até se comumicavam usando o mesmo código dos homens.
Foi nessa época que o leão apaixonou-se pela bela senhorita Sévigné e, sem demora, pediu-a em casamento.
O pai da jovem assutou-se. Ele queria para a filha um marido um pouco menos terrível, mas temia que uma recusa pudesse apressar um casamento clandestino. Com sua experiência , ele sabia que o fruto proibido tem sempre paladar melhor.
Resolveu então aceitar a proposta do leão e disse a ele:
-Agrada-me a idéia de tê-lo como genro, mas preocupa-me o fato de que você machucará
o corpo delicado de minha filha com suas garras , e, ao beijá-la, os seus dentes impedirão que ela lhe corresponda com prazer.
E o leão apaixonado permitiu que lher cortassem as garras e lhe lixassem os dentes.
Sem garras e sem dentes, sua fortaleza foi destruída e um bando de cães o atacou, sem
que ele conseguisse se defender.
Ah! A paixão! Feliz daquele que escapa dos seus ardis!
¹Fábula de La Fontaine chamada " O leão Apaixonado". Nesta fábula La Fontaine
homenageia à beleza da Marquesa de Sévigné, Mari de Rabutin Chantal.( escritora FRacesa. 5/02/1626 - 17/04/1669)
Ah! A paixão!!
Como entender as diferenças entre paixão e amor?
Como estabelecer a dignidade íntima?
A dignidade íntima é respeito, consideração e estima.
Você tem consciência do seu autovalor?
Quantos de nós não nos comportamos igual este leão apaixonado "sem garras e em
sem dentes" na mão de seus pretendentes.
A nossa intimidade fica arrasada e não somos donos mais de nós mesmos.
Você entrega o controle de sua vida a outra pessoa?
Cortam suas garras e lixam os seus dentes?
Onde está a sua dignidade pessoal?
Sem dignidade a tendência dos relacionamentos íntimos é de serem frágeis.
Ah!As nossas fragilidades!! Quanta vulnerabilidade!
Viramos crianças fragéis e nos colocamos na situação de vítimas.
Mas também quanta opostunidade de crescimento de nosso mundo íntimo!!
Ah! A paixão!! Como gostamos dela e como somos viciados no enamoramento, é tão bom!
A sensação de "felicidade" nos toma, sentimos uma agonia mas ela é tão prazerosa!
E do "nada" aquele ser que aparece em nossa frente se transforma no nosso "Amado",
a fonte de nossa alegria, o calor dos dias, a razão de viver, enfim...
Nos tornamos cativos. Ah! Que sedução!!!
Seduzir, ser seduzido e por aí vai o jogo da paixão. Que comichão!
É o melhor dos vícios, até que um dia o nosso amado não corresponde as nossas
mais sinceras e doces fantasias.
Acreditávamos que ele nos aliviaria a dor de nossos dias amargos, dos nossos
dias solitários, da nossa realidade intolerável.
Acreditamos e acreditamos que o nosso amado nos trará segurança, nos completará,
nos aliviará todas as dores, viveremos só de amores.
Compulsão afetiva de ter sempre alguém por perto?
E aonde vai parar a nossa própria motivação para viver?
E aonde vai parar a nossa própria valorização?
Alucinados, anestesiados porém deslumbrados!!!
Ah!A paixão!
Como é gostoso sentir esse "fogo que arde sem doer".
Quantos mitos, quantas crenças idealizadas sobre o Amor...
Mas assim nasce a poesia romântica... e a vida seria muito triste sem poesia.
Ah! Como é belo ...e como sofremos!!
Mas faz parte da vida e do despertar do Amor.
As projeções amorosas fazem parte de nosso universo afetivo em
desenvolvimento. Crescer pela dor também faz parte da vida.
Mas amor que nos traz uma contínua dor não é amor. Algo vai mal e muito mal.
E a paixão é esse deslubramento por nós mesmos no outro.
As paixões são projeções de nossa própria historia amorosa, daquilo que sonhamos,
queremos e "vemos" no outro. E quando esse outro quebra estas conexões a desilu-
são aparece. E tomamos um jato de água fria. É como sair de um sonho, acordar,
despertar. Nos sentimos totalmente de ressaca. E choramos... pelos nossos sonhos.
É o triste despertar e é a saída das projeções.
Mas a admiração é algo genuíno, um passo para o amor real. Entretando devemos
nos conhecer bem para não sermos seduzidos por nossas projeções que geram as
expectativas.
Digamos que a paixão pode ser um caminho para a descoberta do amor mas ela terá
que sair de cena , ou melhor, ser transformar para que possamos olhar a realidade
e amar de verdade.
Só o amor pode tudo e com amor tudo pode!
Mas deve ser estimulado e compartilhado. Diante de pessoas que não querem
ou não podem a situação pode ficar embaraçosa e humilhante para aquele que ama.
Então que possamos entender que não se tira leite de pedra e não se força
ninguém a nos amar. Quer ou não quer, ponto final.
Ah! A paixão!!! E a gente gosta desse desassosego na alma...
Mas o vicio é corrosivo e perdemos o nosso poder pessoal.
O ideal é que estivéssemos no nível de amar sem medo, dizer a verdade sobre o que
sentimos. Fiés aos nossos sentimentos não teremos medo da rejeição. Isso é ser
livre e digno.
O Amor sempre pondera e propõe liberdade.
Para amar é necessário deixar Ser e libertar!
Se o nosso amado ou amada foi embora nunca o tivemos e se voltar é porque o
conquistamos.
"Ah! A paixão!! Feliz daquele que escapa dos seus ardis!"
Rosa Barros
Assinar:
Postagens (Atom)