domingo, 28 de março de 2010

Sobre Convivência


Em nossa jornada humana um dos grandes desafios pelo qual passamos é a arte de conviver. Para se conviver bem faz-se necessário conhecer-se bem. E conhecer-se bem é uma busca contínua do nosso universo interior com desafios, dificuldades, talentos inatos e por construir.
É conhecer o seu mundo afetivo e toda a riqueza que ele possa te proporcionar. Uma atenção constante e ativa sobre nós mesmos.
A vida nos proporciona a cada instante oportunidades de crescimento, e através da convivência aprendemos as nossas grandes lições. Ao observarmos a natureza podemos tirar grandes exemplos de como viver e conviver.
Observemos as abelhas tão reverenciadas por várias civilizações por sua expressão de riqueza, sabedoria, trabalho, organização e prosperidade.
Nas colônias observamos claramente o senso de organização e cooperação. As abelhas são um verdadeiro exemplo de conduta: sabem trabalhar em equipe, são disciplinadas e infatigáveis. Possuem um eficiente sistema de divisão de trabalho e comunicação.
A comunicação é crucial no convívio em grupo e pode ser um grande recurso na construção de relações saudáveis, além de ajudar na prevenção de situações de conflito e discórdia.
Pessoas e situações nos levam ao autoconhecimento quanto ao nosso mundo afetivo e ao desenvolvimento de novas potencialidades e habilidades. Na vida somos todos educadores e alunos e convivendo, através dos encontros e desencontros, sempre, aprendemos.
Saber conviver é respeitar nossa individualidade e alteridade, bem como a daqueles com quem convivemos.
Saber ouvir, é saber falar e esperar… É estabelecer contatos verdadeiros e transformar para o bem de todos.
Conviver é aprender a confiar, “com fio…” para se tecer o manto do bom relacionamento.
A confiança sustenta a crença do valor uns dos outros.
Conviver é um processo para o entendimento da vida dentro e fora de nós.
Rosa Barros

sexta-feira, 19 de março de 2010

Com mestre Rumi


A CASA DE HÓSPEDES

O ser humano é uma casa de hóspedes.
Toda manhã uma nova chegada.

A alegria, a depressão, a falta de sentido, como visitantes inesperados.

Receba e entretenha a todos
Mesmo que seja uma multidão de dores
Que violentamente varrem sua casa e tira seus móveis.
Ainda assim trate seus hóspedes honradamente.
Eles podem estar te limpando
para um novo prazer.

O pensamento escuro, a vergonha, a malícia,
encontre-os à porta rindo.

Agradeça a quem vem,
porque cada um foi enviado
como um guardião do além.

Com mestre Rumi




Vem.
Conversemos através da alma.
Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos.
Sem exibir os dentes, sorri comigo, como um botão de rosa.
Entendamos-nos pelos pensamentos, sem língua, sem lábios.
Sem abrir a boca, contemo-nos todos os segredos do mundo, como faria o intelecto divino.
Fujamos dos incrédulos que só são capazes de enteder se escutam palavras e veêm rostos.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um, falemos desse outro modo.
Como podes dizer à tua mão : "toca", se todas as mãos são uma?
Vem, conversemos assim.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.
Fechos pois a boca e conversemos através da alma.
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.

Rumi, Mestre e Poeta Sufi(1207/ 1273)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Sobre a Vida



A vida mostra a cada momento o que ela quer de nós. Nós, em nossa santa ignorância não percebemos. Bem, precisaria sair desse lugar de ignorância para entendê-la. O primeiro passo é observar. Será que sabemos observar? Observar a vida!! A vida trabalha pela funcionalidade, pela ordem, pela harmonia. Age como uma educadora infalível e sutil. Trabalha de várias maneiras e com muita eficiência. Nós tolos não a compreendemos, nos parece caótica, sem sentido. Temos uma visão estreita, míope de seus objetivos. Na nossa mais pura alienação não conseguimos ver ainda a nós mesmos. Voltados para o mundo exterior não enxergaremos o Absoluto. As respostas para as nossas perguntas estão dentro de nós. A vida já se encarregou de colocá-las em nossa consciência.
Analisemos a depressão, então. Se analisarmos o discurso de um deprimido, lá no fundo observaremos um tenaz rebelde. Aquele rebelde indignado com tudo, absolutamente frustrado pois seus desejos não foram concretizados, suas dores são maiores do que as dores do mundo, ele mereceria uma vida de facilidades e com tudo o que deseja. O depressivo se atormenta, se castiga, se culpa. Por isso é tão crucial aceitar frustrações, aceitar algumas privações. Neste mundo em que vivemos e no estágio consciencial em que estamos, somos crianças mimadas. Diante deste estado consciencial é impossível ainda viver sem frustrações. Nos rebelamos, pois afinal, queremos controlar a Vida ao invés de vivê-la. Queremos moldar a Vida aos nossos interesses pessoais caprichosos, ajustar tudo e todos aos nossos objetivos e desejos. Este é na maioria das vezes o "estado padrão" de todos nós, por isso a depressão toma conta do planeta. Todos de mal com a vida! De mal com a criação! A vida é uma educadora, queiramos ou não.
Perceba, observe! A doença é o caminho para a cura! No estado depressivo o indivíduo perde a capacidade de gerir seus talentos conforme seus caprichos ou visões personalísticas. É castigo, então? Não. É efeito construído pela própria mente do indivíduo. A rebeldia nos coloca em estado mental atormendado e produz mutações tais como: intransigências, irritabilidades, teimosia, perfeccionismo,rigidez, revolta, indolência, queixa, o melindre, a mágoa, a indiferença, a solidão.
Exercemos a milênios o egoísmo, achamos que podemos fazer da vida o que nós convém, queremos ser atendidos em nossos caprichos sem considerações aos limites da convivência honesta com todos. A vida vem e como por encanto, perde-se algo ou alguém, fica-se doente, perde-se dinheiro e por aí vai.. tudo na medida certa e na proporção adequada a cada um, pois "a cada um será dado segundo as suas obras", não é vingança e nem castigo, é colheita. Colheita? Diríamos, indignados. Falaríamos que não plantamos esta maldade que se espalha pelo mundo. Será que não? O mundo exterior ainda é o reflexo de nosso mundo interior. Quando cuidarmos do nosso próprio mundo escuro interior, trancendendo-o para a luz, aí sim, o mundo exterior será outro, um mundo venturoso!
Como se educa uma criança? A criança precisa de limites para aprender a respeitar. Dando limites à criança, trabalha-se seu estado egocêntrico, sua ânsia de domínio e de poder. Limites são dados para se aprender a viver na humildade.
A Vida sempre vai nos contrariar até entendermos que vivemos para desenvolver em nós o Amor, o altruísmo,a humildade, a fraternidade e a compaixão. Vivemos para crescermos como seres humanos em Humanidade. Ela vai frustrar nossos interesses pessoais mesquinhos, egoísticos, vai nos obrigar a mudar concepções,a ampliar visões, nos forçar a sermos honestos,nos ensinar relatividade e impermanência,a aceitarmos a nossa vulnerabilidade e a nossa infalibilidade, que precisamos nos perdoar e perdoar, admitir nossos sentimentos e emoções e nos responsabilizarmos por eles. A Vida sempre devolverá os frutos de nossas semeaduras. Temos compromissos íntimos com a Vida. O Bem Maior quer se instalar dentro de nós, e esse é um dos objetivos da Vida.
O recado oculto da depressão é que se retirando o elã afetivo do indivíduo com o mundo, o sujeito vai aprender a olhar para si mesmo e por si mesmo.
A nossa harmonia com a vida dependerá de muitos esforços de nossa parte.
Reparação é a palavra para a harmonização com a vida. Reparar é dar melhor funcionamento ao que estragou. Recuperar. A recuperação tem que atingir o homem em seu orgulho, pai de todos os males humanos!
Resignação para com aquilo que não podemos mudar agora. Devemos sim sempre tentar novos caminhos, novas saídas, entretanto sem rebeldia. A Vida nos pede constantemente entendimento e reparação para atingirmos a Redenção.

Rosa Barros

domingo, 14 de março de 2010

Com Mestre Rumi


Vem,
Te direi um segredo
Aonde leva esta dança
Vê como as particulas do ar
E os grãos de areia
do deserto giram desnorteados
Cada átomo
Feliz ou miserável
Gira apaixonado
Em torno do sol
Desde que chegaste
Ao mundo do ser
Uma escada foi posta
Diante de ti,
Para que escapasses
Primeiro,
foste mineral,
depois,
te tornarte planta,
e mais tarde,
animal.
Como pode isto ser segredo
para ti?
Finalmente foste feito homem,
com conhecimento,
razão e fé.
Contempla teu corpo
um punhado de pó,
vê quão perfeito se tornou!
Quando tiveres cumprido tua jornada,
de certo hás de regressar
como anjo.
Depois disso,
terás terminado de vez
com a terra,
e tua estação há de ser o céu.
Não durmas,
sinta com teus pares.
A escuridão oculta água da vida.
Não te apresses, vasculhe
o escuro.
Os viajantes noturnos estão
plenos de luz
não te afaste pois
Faltam-te pés pra viajar?
Viaja dentro de ti mesmo,
e reflete,
como a mina de rubis,
os raios de sol dentro de ti
A viagem conduzira a teu ser,
transmutará teu pó em ouro puro.
Sofreste em excesso
por tua ignorãncia,
carregastes teus trapos
para um lado e para outro.
Agora fica aqui.
Na verdade, somos uma só alma
tu e eu.
Nos mostramos e nos escondemos
Tu em mim
Eu em ti
Eis aqui o sentido
profundo de minha
relação contigo
Porque não existe,entre
tu e eu ,
nem eu,
nem tu
Oh, dia, levanta,
os atomos dançam
As almas loucas de êxtase dançam

Meulana Jalaluddim Rumi
Nasceu em Balk, antiga Pérsia e atual Afeganistão em 1207 e morreu em 17 setembro de 1273.
Sua maior obra Mathnavi, ele deixou poesias e a mais famosa , O divan
Rumi escreveu o Fihi-me Fihi, compilação de aulas ensinamentos sobre diversos temas dirigidos diretamente a seus discipulos.
Aqui um pequeno trecho deste poema esplendoroso.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Sobre Mágoa


Quem já não sentiu mágoa. Quem já não recebeu uma ofensa na vida? Quem já não se sentiu injustiçado, lesado?
Que dor é essa que pulsa em nossa intimidade, algo que é difícil esquecer.
A mágoa é um sentimento perfeitamente aceitável, o que mais importa é como vamos lidar com seus efeitos em nós.
Surge então um desafio ético, o perdão.
Geralmente quando estamos magoados nos utilizamos da indiferença. Negamos os sentimentos, nos isolamos, ou nos distanciamos. Este estado de indiferença nos coloca fixados com as pessoas que nos magoaram. O interessante é que esta fixação no ocorrido se pensarmos bem, quer nos fazer entender que precisamos perdoar. São vozes profundas que querem sair deste estado d'alma.
A nossa insistência em permanecer nos gera males ainda maiores para nós mesmos.
Existem mecanismos muito inteligentes em nosso corpo. Eles sempre querem o nosso melhor, querem harmonia e equilibrio. As próprias sensações nos convidam a refletir sobre aonde colocamos nossos sentimentos e nos indicam que aquele não é o melhor caminho a seguir. Sensação ruim no peito são pensamentos e emoções contrárias a nossa saúde. Sensações boas, recheadas de alegria,abertura do peito, nos indicam que nossa alma está feliz e que os pensamentos e emoções estão coerentes com nossa alma.
A indiferença pode nos ajudar temporariamente, ajudar a minimizar a situação. Agora se for uma forma permanente de lidar com a situação devemos olhar para o nosso orgulho. E sofremos, pois a alma tem a tendência natural para a busca de recuperação espiritual. Esta inclinação é para a busca de soluções, de desenvolvimento da afetividade.
A mágoa nos faz congelar o lado positivo daquele que nos ofendeu e esquecemos os momentos felizes e afetuosos que passamos com ele.
Perdoar não é somente esquecer as ofensas. Perdão é emoção, é trabalho para a resignificação.
Temos que resignificar a memória emocional.
Como fazer isso?
Resguardar o foco nos aspectos positivos dos nossos ofensores, das pessoas que tivemos laços afetivos. É um desafio grande. Mas a vida nos convida a desafios, precisamos nos transformar para o melhor e estas são as situações-desafios a nos convidar.
Há aspectos profundos em nossa intimidade que nos prendem à nossa mágoa e ao nosso ofensor.
Se pararmos para pensar, e pense você comigo agora , naquele momento em que foi ofendido. O que realmente havia por trás? Não era os nossos sentimentos contrariados? Nosso interesse pessoal ferido?
Por que nos sentimos ofendidos, então? Nós queremos justiça, não queremos?
Quando somos agredidos , sentimos raiva e com ela um sentimento de perda e lesão.
A raiva está nos protegendo com possíveis ameaças futuras. Portanto o elemento emocional básico da magóa é a raiva.
O que podemos aprender com isso? A dor que sentimos está nos convidando a repensarmos a vida, e as situações e a nós mesmos.
Há uma briga insessante em nosso mundo emocional, a luta entre o nosso ego dominador que visa o interesse pessoal e os nossos desejos mais nobres desejos de renovação, de crescimento, de sentir o bem e a fraternidade.
Estamos em busca de nossa melhoria espiritual e nos embarreramos com os chamados sombrios de nosso ego.
Ainda somos movidos por interesses pessoais, é o motor de nossas ações.
Acreditamos que por sermos mais espiritualizados hoje já nos livramos dessa não virtude.
Raramente e infelizmente somos realmente virtuosos. Temos que reconhecer isso para que possamos transformar esta situação em nós. Nada de nos escondermos nas ilusões, nas cadeias do orgulho pessoal. Nosso processo de melhora ainda é pequeno, porém já contamos com as nossas melhores intenções. Estamos mais conscientes de nossas emoções, estamos nos abrindo para o autoconhecimento, único caminho para transcendermos esta etapa em nossa jornada de evolução espiritual.
Todos somos chamados, digamos que a dor é um rito de passagem .
Ainda pagamos um preço alto por ignorarmos a nós mesmos.
A mágoa permanecerá até descobrirmos a função dela em nossas vidas, ela tem um significado maior, ela nos ensina. Mas nada de cultivá-la.
Vamos perdoar. Compreensão é perdão. Quando admitirmos que estamos na mesma jornada existencial, vamos abraçar nossa humanidade e entender que a dor do outro , a falha do outro também é nossa. Somos humanos e susceptíveis todos a atos errôneos, podemos errar, e ainda erramos muito.
Temos que entender as razões que nos faz sentir ofendidos. Retirando aqui dos casos graves de maldade e absurdas agressões, e sim, perdas e ofensas em nossas relações pessoais.
Mágoa é desgosto. E o objetivo maior será sempre aprendermos olhar para nosso mundo íntimo.
Apenas fica aqui a mensagem, a mágoa vem de nossos interesses pessoais contrariados.
É hora de entendermos o que é estar em um estado orgulhoso, melindroso.

Rosa Barros

domingo, 7 de março de 2010

O sagrado Feminino




Era por volta do ano de 1857, quando no dia 8 de março um grupo de mulheres fora brutalmente assassinadas, trancadas dentro da fábrica que trabalhavam,e mortas carbonizadas. Elas lutavam e faziam greve por melhores condições de trabalho.
E o dia 8 de março ficou sendo o dia simbolizado como o dia Internacional das mulheres.
Calcula-se que ao longo de 300 anos entre 3 e 5 milhões de mulheres foram torturadas e mortas pela "Santa Inquisição", instituição da Igreja Católica para reprimir a heresia.
As mulheres não podiam falar com os animais, caminhar pelas florestas sozinhas ou conhecer os segredos das ervas e colhê-las nas matas, florestas e campos. Eram tidas como bruxas, eram torturadas e condenadas a morrer nas fogueiras.
O sagrado feminino a partir de então fora considerado demoníaco e essa dimensão fora retirada da experiência humana durante séculos.
As mulheres foram reprimidas e os homens negaram o feminino dentro de si mesmos. Houve um grande desequilíbrio na psique humana, alijando a dimenção do feminino no grande Inconsciente Coletivo, passamos a sofrer o desequilíbrio da repressão do sagrado feminino em nós.
Essa supressão do feminino está interiorizada na maioria das mulheres e com isso há uma enorme dor acumulada em suas vidas emocionais durante séculos. Sofreram torturas, escravidão, estupros, submissão, foram retirados os direitos mais básicos.
Direito de serem elas mesmas,sem se sentirem inferiores; direito de se cuidarem, sem se sentirem culpadas; direito a todos os seus sentimentos, direito ao estudo, direito ao prazer, e o principal, o direito de possuírem ALMAS.
O mundo passa as dores do Sagrado Feminino renegado.
Dores e conflitos, guerras, agressões provindas da energia masculina em seu domínio sobre a energia feminina, gerando um total desequilíbrio. Essas duas energias precisam dançar juntas e colaborarem uma com a outra.
Atualmente a energia feminina está transformando a masculina. Saindo do seu estado de vítima, readquirindo sua força. A revolução vem andando a passos largos e ergue-se com todo o seu brilho e poder.
O Feminino sagrado está novamente despontando nas mentes, saindo de seu cárcere, sendo reconhecido e acolhido novamente no grande inconsciente coletivo. Resgataremos a noção de Lar, dos sentimentos, da afetividade, da vivência intuitiva, do contato com a Alma.
Celebraremos o feminino e todo o seu potencial de amor, de paz, de equilíbrio. Não há mais possibilidades de domínios e sim comunhão, nada de repressão e sim libertação.
Nós mulheres da atualidade celebremos o feminino sagrado em nós, a nossa divindade, a nossa beleza e dignidade; o nosso encanto, a pureza, a nossa essência.

Rosa Barros