quinta-feira, 11 de março de 2010

Sobre Mágoa


Quem já não sentiu mágoa. Quem já não recebeu uma ofensa na vida? Quem já não se sentiu injustiçado, lesado?
Que dor é essa que pulsa em nossa intimidade, algo que é difícil esquecer.
A mágoa é um sentimento perfeitamente aceitável, o que mais importa é como vamos lidar com seus efeitos em nós.
Surge então um desafio ético, o perdão.
Geralmente quando estamos magoados nos utilizamos da indiferença. Negamos os sentimentos, nos isolamos, ou nos distanciamos. Este estado de indiferença nos coloca fixados com as pessoas que nos magoaram. O interessante é que esta fixação no ocorrido se pensarmos bem, quer nos fazer entender que precisamos perdoar. São vozes profundas que querem sair deste estado d'alma.
A nossa insistência em permanecer nos gera males ainda maiores para nós mesmos.
Existem mecanismos muito inteligentes em nosso corpo. Eles sempre querem o nosso melhor, querem harmonia e equilibrio. As próprias sensações nos convidam a refletir sobre aonde colocamos nossos sentimentos e nos indicam que aquele não é o melhor caminho a seguir. Sensação ruim no peito são pensamentos e emoções contrárias a nossa saúde. Sensações boas, recheadas de alegria,abertura do peito, nos indicam que nossa alma está feliz e que os pensamentos e emoções estão coerentes com nossa alma.
A indiferença pode nos ajudar temporariamente, ajudar a minimizar a situação. Agora se for uma forma permanente de lidar com a situação devemos olhar para o nosso orgulho. E sofremos, pois a alma tem a tendência natural para a busca de recuperação espiritual. Esta inclinação é para a busca de soluções, de desenvolvimento da afetividade.
A mágoa nos faz congelar o lado positivo daquele que nos ofendeu e esquecemos os momentos felizes e afetuosos que passamos com ele.
Perdoar não é somente esquecer as ofensas. Perdão é emoção, é trabalho para a resignificação.
Temos que resignificar a memória emocional.
Como fazer isso?
Resguardar o foco nos aspectos positivos dos nossos ofensores, das pessoas que tivemos laços afetivos. É um desafio grande. Mas a vida nos convida a desafios, precisamos nos transformar para o melhor e estas são as situações-desafios a nos convidar.
Há aspectos profundos em nossa intimidade que nos prendem à nossa mágoa e ao nosso ofensor.
Se pararmos para pensar, e pense você comigo agora , naquele momento em que foi ofendido. O que realmente havia por trás? Não era os nossos sentimentos contrariados? Nosso interesse pessoal ferido?
Por que nos sentimos ofendidos, então? Nós queremos justiça, não queremos?
Quando somos agredidos , sentimos raiva e com ela um sentimento de perda e lesão.
A raiva está nos protegendo com possíveis ameaças futuras. Portanto o elemento emocional básico da magóa é a raiva.
O que podemos aprender com isso? A dor que sentimos está nos convidando a repensarmos a vida, e as situações e a nós mesmos.
Há uma briga insessante em nosso mundo emocional, a luta entre o nosso ego dominador que visa o interesse pessoal e os nossos desejos mais nobres desejos de renovação, de crescimento, de sentir o bem e a fraternidade.
Estamos em busca de nossa melhoria espiritual e nos embarreramos com os chamados sombrios de nosso ego.
Ainda somos movidos por interesses pessoais, é o motor de nossas ações.
Acreditamos que por sermos mais espiritualizados hoje já nos livramos dessa não virtude.
Raramente e infelizmente somos realmente virtuosos. Temos que reconhecer isso para que possamos transformar esta situação em nós. Nada de nos escondermos nas ilusões, nas cadeias do orgulho pessoal. Nosso processo de melhora ainda é pequeno, porém já contamos com as nossas melhores intenções. Estamos mais conscientes de nossas emoções, estamos nos abrindo para o autoconhecimento, único caminho para transcendermos esta etapa em nossa jornada de evolução espiritual.
Todos somos chamados, digamos que a dor é um rito de passagem .
Ainda pagamos um preço alto por ignorarmos a nós mesmos.
A mágoa permanecerá até descobrirmos a função dela em nossas vidas, ela tem um significado maior, ela nos ensina. Mas nada de cultivá-la.
Vamos perdoar. Compreensão é perdão. Quando admitirmos que estamos na mesma jornada existencial, vamos abraçar nossa humanidade e entender que a dor do outro , a falha do outro também é nossa. Somos humanos e susceptíveis todos a atos errôneos, podemos errar, e ainda erramos muito.
Temos que entender as razões que nos faz sentir ofendidos. Retirando aqui dos casos graves de maldade e absurdas agressões, e sim, perdas e ofensas em nossas relações pessoais.
Mágoa é desgosto. E o objetivo maior será sempre aprendermos olhar para nosso mundo íntimo.
Apenas fica aqui a mensagem, a mágoa vem de nossos interesses pessoais contrariados.
É hora de entendermos o que é estar em um estado orgulhoso, melindroso.

Rosa Barros

5 comentários:

  1. POIS É, COMPLICADO É ADMITIR N É? O ORGULHO É O NOSSO GRANDE PROBLEMA,SOMOS ENGANADOS POR NÓS MESMOS....PRECISAMOS SIM NOS AUTO-AVALIAR SEMPRE, AFINAL N SOMOS PERFEITOS AINDA, E N CABE A NÓS JULGARMOS NINGUÉM,MESMO QUE SEJAMOS JULGADOS E MAGOADOS,AFINAL, AÍ JÁ NÃO É MAS PROBLEMA NOSSO...

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  2. Certíssima, querida irmã!! Beijos Dedeo

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  3. percebo que com o passar do tempo aprendo a lidar com as frustacoes, porém um estado de conformismo incomoda minha vivência, nao sei ao certo se o futuro na velhice assim será, mas tenho medo de que a falta de desejos e sonhos nao realizados torne-me uma pessoa triste, ou ainda me desvie de sonhar de desejar algo bom, talvez por isto que a medida que envelhecemos acabamos criando respostas prontas e pouco comprometimento com o mundo emocional, quem sabe? a conciencia é uma dadiva, porem impiedosa, seca e as vezes prefiro os estados de nao cociencia, ou alteracoes de conciencia, um desligamento mental, um sono profundo e livres de sonhos.

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  4. A falta de contato com o lado transcendente da vida nos gera este tipo de sensação. Só em contato com a transcendência descobrimos as riquezas, contentamentos interiores e a beleza da vida.
    Você está em contato com a vida sem substancia e sem significados. A vida assim é uma vida não consciente de fato. Você está apenas pensando a vida e não sentindo. O nivel do encontro com as tristezas humanas com o vazio humano é o primeiro passo para o despertar. E isto é um bom sinal, é o cansaço existencial. É o caminho para o despertar.
    O que precisamos é despertar para outros níveis consciênciais.
    Consciência de nós mesmos, dos mecanismos da vida, e de nós em sua engrenagem. Seus profundos significados e objetivos. Sem isso as pessoas param de sentir e sem sentir a vida não tem sentido.

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  5. Grata por esta preciosa partilha.
    DTA Rosa.

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